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quarta-feira, 4 de julho de 2012

Os quatro cavaleiros da pena forte

          A folha em branco desafia como um moinho de pás gigantes a rodar lentamente. Algumas vacas pastam despreocupadas ao redor, enquanto o canto solitário e estridente de um pássaro rasga o céu. Os quatro cavaleiros estão firmes, atentos, prontos para a investida. No lugar da espada, a pena ávida em colocar sobre o papel palavras extraídas do fundo da sua alma. E o que seria o escritor, senão um guerreiro de gabinete, empenhado em uma atitude quixotesca de “enfrentar”? Aplacar com tintas delirantes o vazio da sua própria existência e, em um momento sublime, fazer vibrar no leitor a lira do conhecimento, do riso e da reflexão.
          Essa parece ser a missão dos membros da coletânea de crônicas “Tetraedro”. Os valentes Uili Bergamin, Marcos Kirst, Tiago Marcon e Lúcio Saretta partem em uma cruzada na qual não pretendem fazer prisioneiros. Tudo para alcançar o triunfo de, como bem disse Delacroix, “fazer pensar os que podem pensar”. Das gavetas de uma távola redonda urbana, os quatro escribas retiraram os seus rascunhos da loucura, suas letras vagabundas e seus clichês da revolta para compor esse verdadeiro caleidoscópio de papel que é “Tetraedro”.
          Mergulhando fundo no mar plácido da consciência humana, o octopus da palavra que habita os aquários e as vitrines da vida, a tudo observa. Alimentando-se das migalhas urbanas, as quatro mentes turbulentas bebem, em uma mesa de bar, o suco eclético que corre nas veias do cidadão comum. E produzem crônicas de mão cheia, retratos do barato onde encontramos a invenção pessoal de cada autor.
          “Tetraedro” é isso: um círculo de fogo onde assa o misto-quente literário preparado com esmero por Bergamin, Kirst, Marcon e Saretta. Cavaleiros e bardos modernos, com suas ideias de ferro e sua pena forte a embalar as rodas do sonho e da criação.

Lúcio Humberto Saretta


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