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terça-feira, 29 de setembro de 2009

Mulheres de Letras (e de Atenas?)

Acabo de ler duas obras que caíram em minhas mãos entre os mesmos dias. Assim, as li simultaneamente, pois gosto de intercalar leituras – já me peguei lendo seis livros ao mesmo tempo. Não recomendo. Duas leituras concomitantes são possíveis de realizar com eficiência e profundidade; mais do que isso é confusão certa. Pelo menos para mim, que acabei descobrindo meus macetes ao longo desses anos todos debruçado sobre a celulose.
O que li e quero registrar foi “Vestígios – Memórias”, de Valmi Carneiro Elias e “Galópolis – El Profondo Vale Verde”, de Teresinha Isabel Rihl Tregansin. Duas autoras caxienses, com livros diferentes e propósitos semelhantes: eternizar no papel seus passados e suas memórias afetivas.
O primeiro, como o título sugere, é a autobiografia da autora. Com edição caprichada da Maneco e com uma prosa despojada de artifícios, Valmi vai tricotando ao longo das 342 páginas toda a sua história, desde antes de seu nascimento até os dias atuais. O casamento dos pais e o dela própria, os preconceitos dos quais foi vítima, as mudanças de cidades, a morte prematura do filho e a doença devastadora do marido - o Mal de Alzheimer - são os eixos principais da obra. Recheada de fotografias e de citações de grandes escritores, o livro, apesar do volume, flui bem, com alguns momentos de dor pungente. É o que a faz citar Gabrielle S. Colette: “Escrever! Tentação de purgar raivosamente tudo de mais que nos vai pela alma adentro, e rápido, com aquela rapidez que faz a mão relutar e protestar. Escrever, gozo e sofrimento!”
O segundo, um primor gráfico e editorial, é um trabalho organizado por Teresinha, mas na verdade é uma obra conjunta de uma série de artistas. Mergulhando fundo no resgate histórico de Galópolis, suas gentes e artes, o livro traz textos acadêmicos, fotografias recentes e antigas, pinturas, crônicas de pessoas que nasceram ou viveram na comunidade, seu Hino e muito mais. Uma verdadeira garimpagem que resultou em mais de 130 páginas de puro deleite memorialístico, poético e visual. Se já era fácil amar Galópolis, agora ficou ainda mais. O vale onde o sol e a lua precisam galgar os montes para assinalar presença, ganhou a história nas páginas deste livro.
Duas autoras com muita bagagem e que se dispõe a compartilhar conosco suas histórias, amores, lembranças e sofrimentos. Mulheres que, do alto de suas maturidades, ainda se arriscam publicamente e, como diz o popular, dão a cara a tapa. Mirem-se no exemplo dessas mulheres, que não são de Atenas, mas inquietas, trabalhadoras, sensíveis, criadoras corajosas. À Valmi e à Teresinha, meus parabéns e a minha sincera admiração.

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