Acabo de ler duas obras que caíram em minhas mãos entre os mesmos dias. Assim, as li simultaneamente, pois gosto de intercalar leituras – já me peguei lendo seis livros ao mesmo tempo. Não recomendo. Duas leituras concomitantes são possíveis de realizar com eficiência e profundidade; mais do que isso é confusão certa. Pelo menos para mim, que acabei descobrindo meus macetes ao longo desses anos todos debruçado sobre a celulose.
O que li e quero registrar foi “Vestígios – Memórias”, de Valmi Carneiro Elias e “Galópolis – El Profondo Vale Verde”, de Teresinha Isabel Rihl Tregansin. Duas autoras caxienses, com livros diferentes e propósitos semelhantes: eternizar no papel seus passados e suas memórias afetivas.
O primeiro, como o título sugere, é a autobiografia da autora. Com edição caprichada da Maneco e com uma prosa despojada de artifícios, Valmi vai tricotando ao longo das 342 páginas toda a sua história, desde antes de seu nascimento até os dias atuais. O casamento dos pais e o dela própria, os preconceitos dos quais foi vítima, as mudanças de cidades, a morte prematura do filho e a doença devastadora do marido - o Mal de Alzheimer - são os eixos principais da obra. Recheada de fotografias e de citações de grandes escritores, o livro, apesar do volume, flui bem, com alguns momentos de dor pungente. É o que a faz citar Gabrielle S. Colette: “Escrever! Tentação de purgar raivosamente tudo de mais que nos vai pela alma adentro, e rápido, com aquela rapidez que faz a mão relutar e protestar. Escrever, gozo e sofrimento!”
O segundo, um primor gráfico e editorial, é um trabalho organizado por Teresinha, mas na verdade é uma obra conjunta de uma série de artistas. Mergulhando fundo no resgate histórico de Galópolis, suas gentes e artes, o livro traz textos acadêmicos, fotografias recentes e antigas, pinturas, crônicas de pessoas que nasceram ou viveram na comunidade, seu Hino e muito mais. Uma verdadeira garimpagem que resultou em mais de 130 páginas de puro deleite memorialístico, poético e visual. Se já era fácil amar Galópolis, agora ficou ainda mais. O vale onde o sol e a lua precisam galgar os montes para assinalar presença, ganhou a história nas páginas deste livro.
Duas autoras com muita bagagem e que se dispõe a compartilhar conosco suas histórias, amores, lembranças e sofrimentos. Mulheres que, do alto de suas maturidades, ainda se arriscam publicamente e, como diz o popular, dão a cara a tapa. Mirem-se no exemplo dessas mulheres, que não são de Atenas, mas inquietas, trabalhadoras, sensíveis, criadoras corajosas. À Valmi e à Teresinha, meus parabéns e a minha sincera admiração.
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