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quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Quando o papel é mais forte que o aço

          Ana Denise da Rosa
         Estudante de Letras - UCS


          Quem abre o livro “Cela de Papel”, de Uili Bergamin, imediatamente fecha atrás de si uma porta. Fica preso, muito mais do que ficaria se entrasse em uma cela de verdade, com grades de aço e cadeado. Mas como o papel pode ser mais forte que o aço? É que tem palavras e as palavras têm ao escritor.
          Essa obra sinestésica desafia o leitor através da linguagem, prendendo sua atenção a ponto de obrigá-lo a percorrer cada linha atrás de uma saída. Uma saída de si mesmo. Não encontrará. Que tal pelas entrelinhas? Aí sim, estará totalmente perdido.
          O nível de tensão crescente da narrativa absorve o leitor, que sente como se estivesse lá, na sala daquele universo ficcional, junto do menino com olhos de cavalo. A sensação que se tem quando a leitura é interrompida, é como se, ao levantar os olhos da página, alguém abrisse abruptamente a porta e uma luz penetrasse a penumbra daquela sala, e três pares de olhos fitassem o intruso, até o momento em que se retoma a leitura.
          Como são possíveis tantas vidas e tantas possibilidades condensadas em menos de cem páginas? Isso porque cada frase sugere muito, há a possibilidade de diversas interpretações.
          Uma sensação de iminência permeia a obra, a nítida ideia de “quase” indica que as palavras postas pelo autor possuem um significado além do aparente. A combinação delas insinua constantes reticências, pois assim como Julieta necessita desfazer e refazer tramas com seu fio de lã quase tinto, o leitor também necessita passar pelo mesmo processo, só que com a trama literária, lendo, relendo e desmanchando nós.
          Reflexão, solidão, amor, individualidade, humor, medo, liberdade. Tantos sentimentos e tantas histórias orquestradas com maestria revelam um escritor talentoso, que consegue transpor o indizível em um livro extremamente coeso, capaz de conduzir o leitor sensível a uma deliciosa viagem para dentro de si mesmo.

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