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domingo, 24 de abril de 2011

Trecho da entrevista concedida ao Jornal Integração da Serra, de Bento Gonçalves

por Janete Nodari

Você acha difícil ser escritor? Quais os motivos e as paixões que o fazem escrever?
Um amigo meu, o poeta Leandro Angonese, diz que as pessoas pensam que ser escritor é uma benção, quando na verdade é uma maldição. Eu não sou assim, tão radical, não digo que é uma maldição, mas a verdade é que ser escritor é difícil sim. Essa acidentada tarefa de traduzir a vida em palavras, dar nome às coisas, não é para qualquer um. Escrevo, pois viver não é o bastante. Escrevo, pois a literatura é o último território de liberdade total.

O que você sente quando escreve um livro?
Inquietação é a palavra exata. Minha vontade é levar o leitor a um lugar onde ele nunca esteve, causar uma sensação nova, não necessariamente bela ou confortável. Minha inquietação principal reside na dificuldade do subtexto, em fazer o leitor refletir e se identificar, através dos não-ditos e das entrelinhas, levando-o a uma reflexão sobre si mesmo. Sinto prazer e angústia ao escrever, essa é a verdade.

O que significa ser crítico literário?
Significa, antes de tudo, não ter preconceito ideológico. Tenho que ler de tudo, inclusive gêneros que não aprecio. Minha tarefa é apontar as qualidades e os defeitos do texto, independente do gênero e da ideologia do autor. É difícil ser imparcial, mas é necessário. E claro, preciso estar sempre atualizado, ler muito, conhecer a prática e a teoria literária.

O que você espera do leitor?
Todo autor sonha com um leitor ideal, que analise os meandros de sua obra, que perceba suas intenções ocultas (quando existem), seus jogos de palavras, suas ironias. Todo autor espera um leitor atento, que o leia e releia. Infelizmente, hoje, já é uma grande coisa ter alguém que compre seu livro, que o leve para casa e o coloque na estante, mesmo que só de enfeite.

O que você acha da literatura de seu tempo?
Tudo o que eu disser não passará de “achismo”. Quem poderá analisar melhor a literatura de nosso tempo são as gerações futuras. Sei que nunca se produziu tanto como nos dias de hoje e que quantidade não tem relação direta com qualidade. O tempo dirá.

O seu livro " O Sino do Campanário" virou filme. Como foram as filmagens?
Participei das filmagens de “O Sino do Campanário” e fui um dos responsáveis por adaptar o conto para roteiro de cinema. Foi realmente muito interessante e muito sofrido também. Constatar que alguns elementos literários são impossíveis de transpor para a tela é uma grande dor para o autor. Foi divertido, mas não sei se quero isso para mim de novo. Se algum outro texto meu receber proposta para adaptação cinematográfica, pretendo ficar de fora do processo. Só assistirei depois de pronto e darei meu veredicto.

Qual livro será lançado em Bento?
Contos de Amores Vãos. Esta obra foi contemplada via LIC Federal e contêm vinte textos independentes, vários deles premiados em concursos nacionais, que versam sobre um aspecto inusitado do amor: sua impossibilidade de plenitude e a frustração que isso acarreta. A sensação de incompletude se faz presente em cada página, sem enfeites ou demagogias. Os contos transitam entre o realismo e o realismo fantástico. Também no formato os textos fogem do convencional, alternando formas narrativas. Pela temática e pelo estilo, estes contos causam estranheza e arrebatamento, objetivo primordial de qualquer obra literária de valor. Esta é, indubitavelmente, minha obra-prima.

Um comentário:

Anônimo disse...

Ótima sua entrevista, como sempre!
Beijos!!

Cláu