Apesar de jovem, você já apresenta uma produção literária versátil, tendo lançado vários livros que se situam, cada um, em esferas diferentes da literatura (contos, novela e poesias). Você transita com maior facilidade pela poesia ou pela prosa?
Publicar nos diferentes gêneros foi justamente a forma de tentar responder a essa pergunta. Depois de lançar “O Sino do Campanário” e “Cela de Papel”, ambos narrativas com boa repercussão, acreditei ter me encontrado na prosa. Mas o verso ficou latejando em minhas veias. Venci mais concursos literários com poesia do que com qualquer outro gênero. Muitos me desestimularam a publicá-las, dizendo que eu estava bem onde estava e que não seria prudente arriscar. Mas eu pensei: tenho vinte e poucos anos e devo experimentar. Estabeleci comigo mesmo um número de três livros e uma idade de trinta anos para o período de testes. “Do Útero do Mundo”, poesias, teve uma saída excepcional para os padrões do gênero, e continuo sem saber se sou poeta ou prosador. Mas confesso que tenho uma quedinha pela narrativa.
Como se dá seu processo criativo? Como surge a inspiração? Como se dá o trabalho de transpiração que lapida os textos?
Meu processo criativo é irregular e estranho. Sou muito disciplinado para a leitura, mas não consigo impor a mesma disciplina à escrita. Para textos mais simples, como colaborações para jornais e revistas, até consigo escrever regularmente e sem problemas. Agora, para textos literários, poemas e contos, sofro blecautes de meses, às vezes anos. É que levo a escrita muito a sério. Não sou do tipo que vê uma borboleta e já sai com um poema. Preciso de um ritual, de silêncio e de solidão. E o que me desperta pode ser uma leitura, uma música ou uma dor. Aí, quando sinto que preciso criar, então mergulho naquilo com avidez. Releio e reescrevo quantas vezes for necessário, enxugando, burilando as frases. Dificilmente ponho algo fora, mas não tenho medo de cortar palavras, sentenças e até parágrafos inteiros. Isso eu aprendi com o Graciliano.
Quando e de que maneira você se percebeu enquanto escritor?
Acho complicado isso de se dizer escritor. Para mim, nem todos que escrevem e publicam são escritores. Tem muito autor ruim por aí, fabricado, como numa indústria. E muitos aventureiros também, sem noção nenhuma de literatura. Quem vai dizer quem são os verdadeiros escritores é o tempo. E percebi que queria sê-lo após muita leitura, em especial o “Dom Quixote”, de Cervantes. A idéia de poder fugir da realidade e modificá-la me seduziu. Nasceu aí o sonho.
Por que você escreve?
Porque sou um tanto quixotesco. Pessoas com um mínimo de sensibilidade têm necessidade do sublime, e a arte – nesse caso a literatura – oferece essa possibilidade. Escrevo porque viver não é o bastante. E também por uma questão de estética. A busca pela beleza, pelo impacto, aquela frase marcante, que traz implícita uma filosofia profunda, me satisfaz. Mas tem mais coisa. Para mim, a escrita é um meio de catarse. Passo a me conhecer melhor brincando de Deus, criando mundos e personagens, e assim conheço meus semelhantes. Aprendo sobre a realidade através da ficção. Meu segundo livro, “Cela de Papel”, versa justamente sobre esse tema.
Existe espaço para a literatura em Caxias do Sul? Onde e como este espaço se manifesta?
Temos aqui uma das maiores Feiras do Livro do estado. Temos boas livrarias, editoras e escolas que começam a prestar atenção nos autores locais. Temos mecanismos de fomento à produção, como LIC, Financiarte e Concurso Anual Literário. Temos uma Academia de Letras, universidade, faculdades, boas bibliotecas e diversos projetos em andamento. Ou seja, espaços existem e a questão está em pauta. A polêmica sobre a Capital Brasileira da Cultura e a Semana do Escritor Caxiense, há alguns anos, serviram para começarmos a refletir sobre isso. Caxias do Sul tem tudo para engrenar na literatura e lançar autores para o cenário nacional. Falta unir esses esforços, pensar melhor na formação dos leitores e deixar pequenas vaidades de lado.
Quais os autores (ou obras) que exerceram influência sobre você enquanto escritor e enquanto leitor?
Acho que toda obra que leio acaba me influenciando um pouco, e isso às vezes é um problema. É preciso um exercício, depois, para me desvencilhar daquele autor. Os primeiros que fizeram isso comigo foram Cervantes (Dom Quixote), Melville (Moby-Dick) e Henrik Ibsen (Peer Gynt – O Imperador de si Mesmo). Foram experiências que jamais esquecerei. Eles me mostraram um outro mundo. Um modo diferente de ver as coisas. Depois vieram Fernando Pessoa, Allan Poe, Dostoiévski e outros, até chegar em Saramago e García Márquez. “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” e “Cem Anos de Solidão” estão entre as obras que me influenciaram não só como leitor e escritor, mas principalmente como ser humano
Nenhum comentário:
Postar um comentário