Páginas

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Independência e Música

                                                  Uili Bergamin- do livro Tetraedro


          Adoro os 7 de setembro. Mas meus dias da Independência já não são como antes, quando vibrava ao assistir o desfile do exército, aqueles coturnos todos, todos juntos, como um só. Fuzis, carros de guerra, disciplina. Oh! belicosidade e deslumbramento juvenil! Como se isso fosse garantia de ordem e progresso. Como se esse dia (ou o do jogo da seleção), fosse desenho de nosso patriotismo nos 364 dias restantes do ano. Ainda que deixemos quietos os que roubam os cofres públicos, os que nos cobram tanto e devolvem tão pouco.
          O êxtase perante as armas já não é o mesmo, nem a ilusão de que somos independentes. Mesmo a idéia de que temos o melhor futebol do mundo não é como antes. Talvez viver seja isso, ir perdendo, uma a uma, as fantasias da infância. Independência, ordem, melhor futebol do mundo, Coelhinho da Páscoa...
          Mas não, nem tudo se foi. Ainda resta algo que faz meu coração bater mais forte a cada 7 de setembro: as Bandas Marciais. As melodias permanecem em mim, ainda hoje, e creio que para sempre. E neste caso, da música marcial, a disciplina e a ordem surtem efeito sincero e imediato. Efeito artístico, que é o que realmente transforma. As cores dos uniformes e dos instrumentos, a evolução dos integrantes, o ecletismo das músicas, que vão do clássico ao popular, passando até pelo jazz e por marchas especialmente arranjadas, fazem dos desfiles um momento ainda admirável.
          A responsabilidade de cada componente pode ser entendida como metáfora da sociedade como um todo. Ninguém deixa nada por fazer. Ninguém espera pelo outro, pois ali sim há transparência. Todos vêem tudo.
          Dominar a técnica, conhecer o instrumento, acompanhar o ritmo e a marcha. Talvez seja metáfora do cosmos inteiro, como diriam Kepler e Copérnico: a harmonia das esferas.
          E temos muitas e ótimas Bandas Marciais em nossa cidade e região. Um excelente motivo para irmos às ruas e avenidas nos dias de Independência.
          Assim, enquanto a morte espera por minha colheita e enquanto permanecemos dependentes, seja dos países de primeiro mundo, seja das leis da moda e do consumismo, vou gritando meu próprio brado para os próximos desfiles:
          Independência e Música.





Nenhum comentário: