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sexta-feira, 8 de março de 2013

As Crônicas de Nádia


Em comemoração ao Dia da Mulher, lá vai um texto meu,
 publicado no Jornal Folha de Caxias, 
sob o pseudônimo de Nádia


O mundo já é mais do que a cozinha


Ando muito feliz com o nosso tempo, apesar de tanta barbaridade. Óbvio que me entristeço com os escândalos de corrupção. E tem mais o problema da violência, e das drogas...
Mas o simples fato de hoje eu poder escrever minhas indignações num veículo de imprensa, já é um ganho. Há pouco mais de 50 anos isso seria improvável.
Na década de 60, quando eu ainda era virgem (nossa, faz tempo!), eram raríssimas as mulheres de opinião nos jornais e revistas, principalmente por aqui. Mulher até podia escrever, mas geralmente sobre assuntos “femininos”. E as matérias que nos davam à ler eram coisas do tipo: “como prender um homem para toda a vida”, “a melhor maneira de aproveitar os vestidos do ano passado”, ou “você se considera bonita?”. Não que não exista isso hoje, mas agora é opcional.  Enquanto isso os homens escreviam (e liam) sobre a sonda soviética com destino à Marte, a possibilidade de criar bebês em provetas, as políticas nacionais e internacionais.
Acho realmente louvável que algumas de nós tenham sobrevivido à engrenagem alienatória. Embora eu tenha de admitir que esse processo foi mais abrangente e não visou somente a nós, mulheres. Sempre foi (e ainda é) difícil escapar da superficialidade. É necessário força de vontade para aprofundar algo.
O que quero dizer é que é preciso ir à luta, querer algo e perseguir isso. Há amigas minhas que, mesmo agora, se contentam em aprender novas receitas e retardar o envelhecimento. Com toda a informação e possibilidades ao seu alcance, preferem saber de nênias, antes de se posicionarem contra o aumento do nosso legislativo, ou de criticar o cachê estapafúrdio do patrono da Feira de Bento Gonçalves.
Do mesmo modo que os Estados Unidos elegeram um presidente negro, o Brasil tem uma mulher no poder. Foram melhores do que os antecessores? Ainda é cedo para julgar, mas o fato é que conseguiram, chegaram lá. Mesmo com discriminação, superaram as adversidades. Não ficaram de lamúria, buscaram o conhecimento e provaram que é possível.
Nosso tempo é uma maravilha nesse sentido. Nada mais nos proíbe, a não ser uma mentalidade submissa, que prefere se deixar quieta na zona de conforto.
Mulheres, nós já votamos há muito tempo. Podemos (e devemos) tomar partido nas decisões, não só da nossa cozinha, mas da nossa cidade, do nosso país e do mundo todo.

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