Em comemoração ao Dia da Mulher, lá vai um texto meu,
publicado no Jornal Folha de Caxias,
sob o pseudônimo de Nádia
publicado no Jornal Folha de Caxias,
sob o pseudônimo de Nádia
O mundo já é mais do que a cozinha
Ando muito feliz com o nosso tempo, apesar de tanta barbaridade. Óbvio
que me entristeço com os escândalos de corrupção. E tem mais o problema da violência, e das
drogas...
Mas o simples fato de hoje eu poder escrever minhas indignações num veículo
de imprensa, já é um ganho. Há pouco mais de 50 anos isso seria improvável.
Na década de 60, quando eu ainda era virgem (nossa, faz tempo!), eram
raríssimas as mulheres de opinião nos jornais e revistas, principalmente por
aqui. Mulher até podia escrever, mas geralmente sobre assuntos “femininos”. E
as matérias que nos davam à ler eram coisas do tipo: “como prender um homem
para toda a vida”, “a melhor maneira de aproveitar os vestidos do ano passado”,
ou “você se considera bonita?”. Não que não exista isso hoje, mas agora é
opcional. Enquanto isso os homens
escreviam (e liam) sobre a sonda soviética com destino à Marte, a possibilidade
de criar bebês em provetas, as políticas nacionais e internacionais.
Acho realmente louvável que algumas de nós tenham sobrevivido à
engrenagem alienatória. Embora eu tenha de admitir que esse processo foi mais
abrangente e não visou somente a nós, mulheres. Sempre foi (e ainda é) difícil
escapar da superficialidade. É necessário força de vontade para aprofundar algo.
O que quero dizer é que é preciso ir à luta, querer algo e perseguir
isso. Há amigas minhas que, mesmo agora, se contentam em aprender novas
receitas e retardar o envelhecimento. Com toda a informação e possibilidades ao
seu alcance, preferem saber de nênias, antes de se posicionarem contra o
aumento do nosso legislativo, ou de criticar o cachê estapafúrdio do patrono da
Feira de Bento Gonçalves.
Do mesmo modo que os Estados Unidos elegeram um presidente negro, o Brasil
tem uma mulher no poder. Foram melhores do que os antecessores? Ainda é cedo
para julgar, mas o fato é que conseguiram, chegaram lá. Mesmo com discriminação,
superaram as adversidades. Não ficaram de lamúria, buscaram o conhecimento e
provaram que é possível.
Nosso tempo é uma maravilha nesse sentido. Nada mais nos proíbe, a não
ser uma mentalidade submissa, que prefere se deixar quieta na zona de conforto.
Mulheres, nós já votamos há muito tempo. Podemos (e devemos) tomar
partido nas decisões, não só da nossa cozinha, mas da nossa cidade, do nosso
país e do mundo todo.
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