Por Leandro Angonese - Poeta
Não é surpreendente que “Contos de Amores Vãos” tenha a repercussão que
teve. Mais surpreendente teria sido se não tivesse. Este quinto título de Uili
Bergamin esmaga com mão de ferro o idealismo tolo, qualquer romantismo
ultrapassado que tenha resistido a pós-modernidade.
Em um país como o Brasil, onde ainda se procura leituras doces para
amenizar as agruras do cotidiano, esta nova coletânea de contos tem tudo para
cair como uma bomba. Ele irrompe no mundo literário com a espada em riste,
derramando doses cavalares de estilo, realidade, precisão analítico-psicológica
e algumas pitadas de humor. Um misto de volúpia e ira que vai destrinchando as
relações contemporâneas, deixando à mostra as úlceras dos amores que poderiam
ter sido e não foram.
Uili desafia a tendência “água-com-açúcar” e torna essa literatura
totalmente risível depois de seus contos. Sua prosa é afiada e corta. É tão
tóxica quanto o despeito que move seus narradores.
Mas a temática que embasa o texto é apenas uma das estocadas do autor. A
forma usada por ele para construir este panorama literário é absolutamente
assombrosa. Cada um dos vinte contos vem embalado de uma maneira diferente,
inovando sempre, criando novos jeitos de narrar, de contar histórias. O domínio
de Uili sobre a palavra só é comparável aos dos grandes mestres; ele faz o que
quer com ela, anula a pontuação, inverte a sintaxe, cria neologismos. Conhece
perfeitamente a regra, só para demoli-la.
Versátil, culto e inteligente, Uili ziguezagueia entre a filosofia, o
erudito e o coloquial. E, diante de suas ideias, nos obriga a refletir sobre
nós mesmos.
Apenas para exemplificar, já que todo o livro é fantástico, o conto “Ester”
é obra de gênio. Eu o incluo entre os melhores já produzidos em nosso estado.
Ao virar a
última página desse livro, nos deparamos com o vazio, mas saímos preenchidos de
ótima literatura.
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