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domingo, 4 de agosto de 2013

Discurso


Há dias perguntaram-me qual a emoção de ser eleito Patrono da Feira do Livro de Cotiporã, pela 2ª vez. É preciso lembrar que em 2007 também recebi essa honraria, e naquela ocasião lancei meu livro de poemas “Do Útero do Mundo”. Recordo que uma das frases que mais repercutiu em meu discurso, e que inclusive foi repetida pelo Frei Rovílio Costa - então Homenageado da Feira - foi que Cotiporã era o útero do meu mundo. 
Ora, eu já não vivo naquela terra há praticamente 15 anos. Meu pai e meus avós paternos estão enterrados lá. Minha mãe se mudou para Caxias do Sul recentemente, de modo que poucos assuntos tenho ainda a tratar por aquelas plagas. Conservo muitos amigos e parentes, óbvio, mas já não distingo nas ruas tanta gente como distinguia, sendo que dos mais jovens, já não reconheço ninguém. Então, porque sinto que aquele município ainda é o útero do meu mundo? Qual o motivo de eu ter ficado tão feliz ao ser convidado para ser Patrono, pela 2ª vez?
A resposta é: porque passei os melhores anos da minha vida lá, e porque, como diria Saramago: “o que a memória ama permanece eterno.” Não existe maior prêmio para um ser humano do que ser reconhecido pelo seu povo, onde ele viveu e cresceu.
Talvez poucos saibam, mas não sou cotiporanense de fato. Nasci em Bento Gonçalves e me mudei para lá aos 8 anos de idade. Porém foi em Cotiporã que me tornei gente, como dizem. Lá tive todas as minhas primeiras experiências, de amizade, de amor, de trabalho, de fé. Por aquelas ruas eu corri, quando criança. Pelos campinhos de terra, grama e concreto, joguei futebol até estourar meu joelho. O pôr-do-sol que eu via do morro lá de casa é, para mim, até hoje, o mais belo do mundo. 
Foi em Cotiporã que me transformei em escritor, ou seja, no que sou, no que nasci para ser. Talvez, se tivesse sido criado em uma cidade maior, teria seguido outro rumo, pois a “Jóia da Serra Gaúcha” permitiu a calma e a contemplação necessárias à leitura e à criação literária. 
De tanto eu falar daquele “lugar pequeno e bonito”, certo dia um poeta, amigo meu, disse: Uili Bergamin: o nome é americano; o sobrenome italiano; a língua que fala é a portuguesa; mas seu coração... seu coração é cotiporanense. Como quase todos os poetas, ele sabia o que dizia.
Sendo assim, só tenho a agradecer a esta cidade e ao seu povo, por mais uma vez me acolherem. Por lerem meus escritos, por me receberem tão bem, sempre, quando volto. E sempre volto. 

(Trecho de meu discuso de encerramento da Feira do Livro de Cotiporã, do qual fui patrono - 2013)

Encerrado um ciclo. Saio da minha terra com a cabeça erguida, a satisfação do dever cumprido e a certeza de amá-la e de ser amado por ela.

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