Páginas

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Poema Vencedor

Leitura de meu poema "Das Sesmarias do Tempo",
vencedor do I Concurso de Poesias 
dos Servidores Públicos Municipais de Caxias do Sul, 
ontem, nos Pavilhões da Festa da Uva,
durante os Festejos Farroupilhas.

Uma reflexão gauchesca sobre o tempo que passa.

Das Sesmarias do Tempo

O ponteiro corcoveia, e c'oa retina tu o devoras
Te apluma ginete, ao pisar na cauda das horas
Que tentamos domar o tempo e sempre o tempo nos doma
Ampulheta não tem buçal, relógio não tem redoma
Neste tropel da horas, saudades do que não vi
Tique toque, tique toque, diz o relógio e sorri.


Então gineteio assíduo, preciso amansar o tempo
Que vive a me dar c'oas patas, tornando velho aqui dentro
Reinaço descolorido, mesmo com céu azul
Xucro, me tira o norte, eu, que sou do sul
Nas coxilhas minha vida, inevitável, se desbota
E tudo amanhece menos, efêmera infância torta.


Ao retrato do galpão o tempo ronda, amarelado
Picaneando suas rugas, tique toque ataviado
Esse tempo, ao despacito, de calculada demência
Tão dorida, tão amarga, sua infinita cadência
Brotam cãs dessa querência, trazidas pelo Minuano
E a areia se esvaindo, ano após ano.


Mas quem pôs tanta fome no alforje dos segundos?
Que faz baços os meus olhos, meus traços assim imundos?
Peito aberto, estropiado, abraço o que o tempo dá
Pois a areia da ampulheta logo escoará
Enquanto lês esta pajada vai o tempo em seu galope
Tique toque, tique toque, tique toque, tique toque...

Nenhum comentário: