O homem é tão vão quanto o amor
Pela jornalista Suélen Cristina Bastian.
Desde os primórdios da
história do homem o amor é um enigma. O
mistério amoroso é o mero fato de não existir uma lógica,
ou seja, não temos como fazer um cálculo e chegar a um raciocínio exato. Sempre haverá dúvida. Então, sabemos que o amor não possui uma
teoria perfeita. Muitos escritores o mencionam, mas cada um do seu ponto de vista
e sabendo que as suas descrições estão sobre um tapete flutuante. Este livro “Contos de Amores Vãos” é nada mais e nada menos que uma viagem aos
olhos e pensamentos de Uili Bergamin, porém de
grande originalidade e
magnitude.
Ao decorrer dos tempos modernos, são
perceptivos os devaneios sobre o significado do amor e questões como: porque o
amor nem sempre dá certo? porque mesmo depois de ter conquistado o grande
amor, ainda existe uma sombra de solidão em nossas vidas? como o amor acontece? nós escolhemos ou somos escolhidos? Essas perguntas jamais serão respondidas
com uma lógica de razão. Isso por que este
sentimento só pode ser experimentado por meio da prática.
Os contos deste livro não trazem
soluções ou respostas, e sim uma reflexão sobre as experiências das personagens
que amam e que sofrem por consequência de uma escolha que lhes parecia ser o
“caminho dos sonhos”. Conforme as páginas vão
sendo folhadas, o autor desvela o contraste do amor e da dor – frustrações e
vazios que não puderam ser preenchido pelos seus amados. Amar
muitas vezes significa uma luta contra tudo e todos. Já dizia William
Shakespeare: “Lutar pelo amor é bom, mas alcançá-lo sem lutar é melhor”. Isso
porque nem sempre as pessoas são correspondidas, outras são desprezadas e
descartadas (aqui saliento as tragédias amorosas).
Diante da leitura de
“Contos de Amores Vãos”, me atrevo a dizer que Uili tem uma
identidade muito próxima a de Jean-Jacques Rousseau. Os diálogos falam
dos devaneios e impulsos dos indivíduos mediante a situação
inusitada de simplesmente existir. O ser humano é complexo em todos os
sentidos. Os escritores que tentam compreender os pensamentos e os significados
da existência,
sempre criam um prelúdio de reflexões que tentam amenizar as
incertezas do que realmente os indivíduos são e pensam que são.
Esta obra, na sua excelência, nos oferece novas formas de pensar, de perceber o fluxo da
vida e nossas próprias motivações nas relações amorosas. Porque uma boa parcela da sociedade pode se refletir nas palavras encontradas nos contos deste
livro. De acordo com Rousseau:
Quando
meu destino me lançou na torrente da sociedade, não encontrei mais nada que
pudesse deleitar por um instante meu coração. Assim, tudo contribuía para
desviar minhas aflições deste mundo, mesmo antes dos infortúnios que me
tornariam totalmente estranho a ele. (Rousseau, p.30e 31 do livro “Os devaneios
do caminhante solitário”, 2011)
Existe uma peculiaridade nos textos
de Bergamin, que é muito familiar com os de
Rousseau: os dois fazem contrastes da sociedade e da realidade vivida
pela mesma. Veja um trecho de “Contos de Amores Vãos”:
Há,
porém, um tipo de sujeito que põe em risco sua existência de tanto querer a
vida. Exploram tão intensamente e de forma tão irresponsável seus dias, que os acabam abreviando.
Essas escrituras se cruzam, mas não
se tocam. Ambos os autores fazem uma reflexão, abordando a estranheza de si
mesmo e do mundo a sua volta. A diferença é que um se utiliza da primeira
pessoa e o outro da terceira. Contudo, a semelhança se encontra na forma
de escrever e na visão das emoções e da sociedade.
Na sequência, segundo Ezra Pound: “A grande
literatura é linguagem carregada de significado até o máximo grau possível”.
Então, o significado dos Contos não é fazer as pessoas desistirem dos
relacionamentos amorosos, e sim repensar sua formas de se relacionar. Um
bom livro não é o que te dá uma resposta pronta sobre um fato, e sim aquele
que te faz perder uma noite de sono, refletindo. Só por você ter pensando a
respeito, já valeu a leitura.
Não tenho dúvida do futuro brilhante
de Uili, um talento indescritível com as palavras. Quando
falo do brilho dos escritos dele, é porque seus textos realmente causam conflitos de pensamentos e proporcionam uma nova visão sobre as coisas mais
simples como a vida, o tempo, a crença, os sonhos e o amor. Consequentemente, é
importante ver as possibilidades, enxergar a dor, mas também nos
enxergarmos no espelho da realidade. O escritor não pinta quadros de felicidades em seus livros; ele escreve os sentimentos de diante da tragédia, ou
seja, da vida como ela é.
A existência tem
seus encantos, mas ela ainda passa pela miséria, guerra, farsa, catástrofe,
violência e morte. Se as pessoas pudessem olhar além das suas janelas bonitinhas,
também poderiam ver esta realidade e perceber que o olhar de Uili não é
somente o de um livro, e sim uma realidade em contos.
Então, falar dos
conflitos humanos das mais diversas formas é falar daquilo
que nós somos. Que o homem contemporâneo contínua buscando um formato de
satisfação e muitas vezes fica sujeito ao fracasso. A imagem humana de Uili,
em suas narrativas, é como o ser real atualmente, um ser vão. O amor vive vazio porque se tornou vão, e a sociedade foi a passo largos para o abismo de
seus entendimentos nublados.
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