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sábado, 3 de outubro de 2015

Discurso do Patrono

Há 15 anos me estabeleci em Caxias do Sul e foi aí que descobri a Feira do Livro. Ela não era o que é hoje, mas já despertava a minha admiração.  Logo me tornei fã e fiel a ela. Lembro como se fosse hoje do Guto Nesi e do Zé do Rio declamando poemas, com seus vozeirões, aqui na praça. Depois comprei um livro (só podia um), auxiliado por um desconhecido que virou meu grande amigo. O livro era "O Perfume", um dos melhores que li até hoje, e o amigo é o grande professor Décio Bombassaro.
Depois trabalhei em livrarias aqui da cidade, e posso afirmar que conheço bem a rotina pesada dessas bancas.
Em 2005 passei em concurso público e fui trabalhar na Secretaria da Cultura, atuando durante anos na Biblioteca Pública. Ainda em 2005 lancei meu primeiro livro, "O Sino do Campanário", o livro de ficção mais vendido da Feira daquele ano, e então passei a frequentar o evento como escritor, lançando livros, palestrando, mediando debates. Construí uma obra polimorfa, variada, e trabalhei muito com palestras, rodas de leitura, oficinas, principalmente com jovens. Ser escritor, na verdade, não é o que escolhi ser. Eu quis ser tanta coisa... Ser escritor, em verdade, é o que não consegui deixar de ser.
Em 2013 e 2014, com a fusão do PPEL e da Biblioteca Pública, passei a fazer parte da equipe que organiza a Feira. Falo com conhecimento de causa: organizar esse evento é um trabalho sobre-humano. Tudo é extremamente minucioso e exaustivo. Essas pessoas que fazem a Feira, todas elas, são verdadeiros heróis. Pra elas eu peço uma forte salva de palmas.
Agora, como Patrono, posso dizer que conheço todos os ângulos deste grandioso evento. Estou muito, muito feliz e honrado com esta homenagem, e pretendo dar o meu máximo para tornar essa festa ainda maior.
Em minhas palestras, ouço com frequência a desculpa de que as pessoas não leem porquê lhes falta tempo. E minha resposta é sempre a mesma: "Tempo é uma questão de prioridade". Para tudo aquilo que for fundamental em minha vida, eu arrumo tempo. Se a leitura não for primordial pra mim, jamais vai sobrar espaço em minha agenda para ela.
Assim acontece com a Feira do Livro. Ao longo dessa década e meia, nem tudo foram flores. Comprei livros com os quais não me identifiquei, enfrentei temporais, atendi pessoas não muito educadas, briguei por minhas ideias, me magoei algumas vezes. Mas nunca, nunca deixei de frequentar essa festa. Jamais pensei em abandoná-la, pois a Feira do Livro e a literatura são maiores do que os administradores, do que o Patrono e do que intrigas de cunho particular e político. Quem ama os livros e a leitura vai até eles, porque amar os livros e a leitura é amar e apostar em si mesmo.
A Feira e as obras literárias NÃO são finalidades em si mesmas. São veículos, meios para nos ajudarem a ir mais longe, para nos tornarmos NÃO perfeitos, mas melhores do que já fomos. Para sairmos do senso comum, da superficialidade, do radicalismo, do julgamento fácil, das tendências da massa. Enfim, sairmos da ignorância.
Todos nós que aqui estamos lutamos pela mesma causa, que não é apenas vender e engrossar estatísticas. Nosso intuito é formar leitores, para termos homens, mulheres e uma cidade melhor.
Durante os próximos 16 dias a Praça Dante se transforma em uma fortaleza de papel e de sonhos possíveis, ONDE E QUANDO AS IDEIAS SE ENCONTRAM. As palavras, mortas ou esquecidas, estão aí, enterradas em milhares de obras, em estado latente, prontas para serem ressuscitadas. Eu convoco a todos para que, mesmo em meio à crise e polêmicas mal intencionadas, nos esforcemos para reavivar as melhores palavras, para dar a elas oportunidade de mudar nossas vidas, tornando esse evento inesquecível e edificante. Voltemos à essência da Feira e  à nossa própria essência. Voltemos a nos preocupar com o que realmente importa.
UMA ÓTIMA FEIRA DO LIVRO PARA TODOS NÓS.

BOA NOITE E MUITO OBRIGADO.

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