Vivemos, como se sabe, cada vez mais num mundo de superficialidades, de preocupações tais que não são mais aquelas que dizem respeito ao autoconhecimento e ao conhecimento do outro. Uma época de triste estranhamento. Alguém, em outros tempos, já dissera: "Onde estiver seu tesouro, lá estará também seu coração". Portanto, a consideração do que consiste, em essência, esse "tesouro", no qual depositamos nossos melhores esforços e nossas maiores esperanças, é, por si só, muito reveladora, não apenas de nossas preferências ou ambições - que muitas vezes o meio social trata, sem que o percebamos, de moldar e de impingir como modelo a ser perseguido - mas é reveladora, como dizia, de nossa personalidade, e do quanto esta pode ser uma força transformadora, capaz de forjar sua própria Identidade e, a partir disso, criar seus próprios parâmetros de avaliação, escolhas, decisões, etcétera... Seu modo, enfim, particular de estar e interagir com o mundo.
A literatura, para muitos (e aqui ouso me incluir), se constitui nesse "tesouro", e é lá que devo procurar meu coração. Naturalmente, não é um território de fácil acesso, e, uma vez lá, não se possui garantia alguma de permanência ou mesmo de sobrevivência. Não é um asilo, como se costuma pensar, para almas contemplativas e sonhadoras, para espíritos apáticos e corpos desfibrados, ou mesmo um emprego vitalício e bem remunerado numa autarquia qualquer. É uma região de permanente embate, escaramuças e batalhas sangrentas e de escassos vencedores, cujo o único galardão que estes porventura vêm a conquistar, muitas vezes, é o sentimento solitário e a certeza estimulante, todavia inquietante, de se estar combatendo o bom combate.
Nesta noite, contudo, posso dizer, como os demais colegas premiados, que conquistei algo mais.
O Prêmio Vivita Cartier, instituído este ano, a exemplo do concurso literário anual, que já está na sua quadragésima sétima edição, vem a resgatar a cidadania e importância de nossos escritores. Pois, como preconizava Platão em sua República, e as democracias e outros regimes de fato o fizeram, os poetas foram há muito banidos, senão objetivamente, subjetivamente, de suas cidadelas. Mas uma sociedade, por mais progressista e economicamente pujante que se queira, como a que se dá em nossa cidade, nada é e nada será se não admitir e estimular, ao lado da força trabalhadora e do dinamismo empresarial, a criação artística e intelectual de seus cidadãos.
Isso, felizmente, vem ocorrendo. O FINANCIARTE já uma realidade. O Prêmio Vivita Cartier, com o qual tenho a honra e a satisfação de ser premiado essa noite, já é outra. Muito obrigado.
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